"Um espaço reservado para falar das lembranças, histórias e episódios dos mais de 60 anos de Mil Milhas Brasileiras. E de outras coisas mais!"

segunda-feira, 28 de maio de 2012

segunda-feira, 21 de maio de 2012

BMW com motor de Opala em Interlagos

Por esses dias estava dando uma lida numas revistas antigas quando me deparei com uma verdadeira traquitana: Uma BMW Série 3, cujo motor original foi substituído por um seis cilindros de Opala, com direito a turbo e escapamento curto. Isso aconteceu na 2ª etapa do extinto Campeonato Paulista de Arrancada, ocorrida em abril de 2003. Na reportagem, não constava o nome do piloto, apenas que ele não teve permissão para correr, pois estava sem o macacão. Na 4ª etapa daquele ano, o BMW reapareceu para correr, disputando a categoria Força Livre.




domingo, 20 de maio de 2012

1000 milhas de decadência


A 25ª edição das Mil Milhas Brasileiras, disputada em 1996, é tida por muitos como a pior prova da história da corrida. O problema naquele ano se iniciou com a não liberação do autódromo para a realização da corrida no mês de janeiro, já que eram tempos em que o GP Brasil de F1 era realizado no mês de março, e a tradicional reforma antes da realização do GP exigia o fechamento da pista em meados janeiro.

Aproveitando o momento da Fórmula 1 no Brasil, a organização da prova, que na época ficava sob responsabilidade do Centauro Motor Clube, na pessoa de Roberto Bilstrein, considerou oportuno realizar a corrida uma semana depois do GP Brasil, mais precisamente no dia 8 de abril. Logicamente, essa é uma data em que a grande maioria dos campeonatos já havia começado, o que fez com que muitos pilotos de afastassem da disputa em Interlagos.

Somando-se ao afastamento de vários pilotos de renome que haviam competido em edições anteriores da prova, a falta de divulgação do evento e de premiações em dinheiro para os vencedores, fez com que o minguado grid fosse formado por apenas 30 carros, a maioria de baixo nível técnico. A lista de carros inscritos era composta basicamente por Aldees Coupé, protótipos AS-Vectra, alguns Opalas e Mavericks (entre os quais o tradicional branco nº 16 da Automotor) e o único importado, um Porsche 911 1971 com motor de 993, que já foi assunto em um outro post deste blog.

A largada foi dada às 13:00, seguindo a ideia adotada em anos anteriores de largar de dia e terminar à noite para atrair mais público às arquibancadas de Interlagos. Tática que não funcionou, diga-se de passagem. Na 1ª fila, o AS-Vectra de Djalma fogaça/Fábio Sotto Mayor na pole-position e o Porsche 911 em segundo. Ainda na 1ª volta, o Porsche assumiu a liderança para não mais perdê-la até a bandeirada final, vencendo, ao fim de 12h12min15 de prova, com 5 voltas de vantagem para o 2º colocado, um Aldee Coupé.

Entre os destaques da prova, estava o Maverick amarelo do trio Andreas Mattheis, Alexandre Costa e Paulo Lomba, que terminou na 3ª posição. A campeã da Fórmula 3 Sulamericana Light de 1992, Suzane Carvalho entrou para a história da prova ao formar a 1ª equipe feminina a disputar a Mil Milhas. Suzane correu com o Aldee nº 7 formando trio com as argentinas Delfina Friers e Marisa Paganopulo. Com 8 horas de corrida, o Aldee apresentou problemas, forçando o abandono quando estava na 4ª colocação.

Essa realmente foi uma prova para esquecer, dado o baixo nível técnico, o fracasso em público e a desorganização, que só não causou maiores problemas porque o público foi de minguados 2000 pessoas, que acompanharam a prova em horários diferentes. Antes mesmo da prova ser realizada, já era programada a edição do ano seguinte, que seria disputada no Autódromo Nelson Piquet, em Brasília.

Os seis primeiros colocados:

1º Porsche 911T Nº 3 André Lara Rezende, Roberto Keller, Roberto Aranha e Walter Salles Jr SP – 372 voltas
2º Aldee Coupê VW Antônio C. Garcia e Tony Garcia – 367 voltas
3º Ford Maverick nº 72 Paulo Lomba, Andreas Mattheis e Alexandre Costa RJ/RJ/SP – 358 v
4o Aldee RTT Renato Marlia, Luiz Paternostro e Luís Alberto Castro SP/SP/RS – 346 voltas
5o Aldee RTT Ney Fonseca e Antônio Chambel SP – 345 voltas
6o Protótipo AMZ Arley Marroni, Gastão Weigert e Mário Yokota PR – 342 voltas













sexta-feira, 4 de maio de 2012

1994: Um ano que ficou marcado na história


O ano de 1994 foi um marco na história da Mil Milhas Brasileiras. A 23ª edição, disputada em 22 de Janeiro daquele ano, foi uma das melhores corridas realizadas até hoje. Tanto pelo nível dos carros e pilotos (a invasão dos importados foi tratada na última postagem publicada no blog), como pela divulgação da prova por parte da imprensa, especializada ou não.

A disputa na pista foi acirrada, misturando os "aviões" importados, pilotados por pilotos de renome internacional, como Nelson Piquet, Rubens Barrichello, Christian Fittipaldi, Franz Konrad, Ingo Hoffmannn entre outros, com os valentes bólidos nacionais, tendo como maior força os protótipos Aldee RTT (criação de Amir Donato), que haviam estreado na prova 4 anos antes. Ao todo, 107 veículos foram inscritos na prova, sendo que 78 tentaram a classificação e somente 66 puderam alinhar no grid de largada. No total, 180 pilotos puderam participar da prova, numa época em que era usual correr em trio ou em dupla.

A organização, como sempre, deixou a desejar. O principal fator de desordem foi a farta e descontrolada distribuição de credenciais de boxe para a imprensa (500 credenciais) e para as equipes de cada carro (cada uma tinha direito a 24 credenciais). Posteriormente, Eloy Gogliano declarou à revista Quatro Rodas, em março de 1994, que na realidade foram distribuídas no total de mais de 4000 credenciais. Isso só fez aumentar o já tradicional excesso de pessoas transitando pelos boxes, o que atrapalhava o trabalho dos mecânicos e colocava em risco a vida de quem estivesse na área durante os abastecimentos, os quais eram feitos de forma amadora. Amadora e irresponsável, pois eram poucos os mecânicos que utilizavam vestimenta e luvas anti-chamas, sendo que muitos calçavam chinelos e vestiam shorts enquanto trabalhavam nos carros. Ainda em relação à estrutura de boxe, era comum ver equipes utilizando garafões de água mineral para amazenar combustível e abastecer os carros. O que não eram comum era a presença de extintores de incêndio nos boxes...

Tanto que durante os treinos, o motor do carro do piloto Albery Spinola explodiu na pista, e a demora na chegada do socorro foi algo que contribuiu para o agravamento da situação. Porém, a situação mais grave ocorreu no boxe 15, da equipe Linho Leslie, que disputava a prova com o Puma nº 35 (mecânica de F3), tendo como pilotos Artur Nunes e Jair Bana. Durante uma das paradas, uma faísca gerada pelo escapamento do carro fez com que o combustível derramado (inúmeras poças de combustível foram formadas nas áreas de serviço dos boxes) durante o reabastecimento entrasse em combustão, causando um grande incêndio que provocou queimaduras em sete membros da equipe, inclusive nos dois pilotos. O desfecho trágico desse incidente ocorreu onze dias depois, com a morte do mecânico José Marcelino Koga, que teve mais de 50% do corpo queimado.

Voltando a disputa na pista, a sequencia da corrida pode ser resumida da seguinte forma: A prova teve duas largadas, pois na primeira, além dos carros não estarem no alinhamento ideal, o semáforo não acendeu, o que confundiu boa parte dos pilotos. Após a segunda largada, Franz Konrad tomou a liderança da prova ainda nos primeiros metros, com Christian Fittipaldi na sua cola. Já na quarta volta, os dois começaram a ultrapassar os primeiros retardatários, enquanto que na oitava volta, alcançaram uma verdadeira fila indiana formada por 40 carros, o que fez com que Christian se aproximasse ainda mais de Konrad. O Porsche 911 (motor aspirado) de Christian e Wilsinho tinha 60 cavalos a menos de potência em relação ao de Konrad (motor bi-turbo), o que fazia com que ele perdesse um pouco nas retas, mas descontava a desvantagem no miolo sinuoso de Interlagos. Na 16ª volta, o Porsche de Konrad teve um pneu furado, possibilitando a Christian assumir a liderança da prova, na primeira perna do S do miolo. Ele manteve a liderança até a volta 116, quando parou nos boxes, passando a liderança para o BMW M3 GTR de Nelson Piquet/Ingo Hoffmann/Jhonny Cecotto. 10 voltas depois, a BMW faria uma longa parada de 25 minutos nos boxes, com problemas no diferencial, o que acabou com as chances de vitória do trio Piquet/Hoffmann/Cecotto.

O Porsche dos Fittipaldi assumia novamente a liderança para não mais perdê-la durante a prova, liderando com certa tranquilidade em relação ao segundo colocado. Ao final, o carro nacional melhor posicionado foi o Aldee 2.0 nº 0 de Almir Donato/José Cherchiai Jr./Manoel Rezende Jr., que terminou na sexta colocação na classificação geral e venceu na classe B (carros aspirados até 2.000 cm³). O feito é ainda mais destacado levando-se em conta que este carro largou na 58ª posição!

Excetuando-se os transtornos e os tristes acontecimentos dos boxes, essa foi uma prova histórica, que reuniu pilotos de alto nível, além de trazer para Interlagos veículos que nunca haviam disputado uma corrida em nosso país, como no caso dos Escorts RS Cosworth, Nissan 300 ZX, Opel Omega, entre outros. Um "causo" lembrado pelo leitor Dioberto acrescentou (obrigado pela contribuição!) requintes cômicos à prova: O próprio leitor, substituindo um promotor de vendas da empresa Chapecó, patrocinadora dos Fittipaldi, fez a divulgação da empresa fantasiado de porco, com direito a fraque e cartola, o que fez a festa dos presentes. Infelizmente, não encontrei nenhuma foto do garoto propaganda, apenas um extrato retirado da reportagem feita pela Folha de São Paulo no dia da prova.

Os vinte primeiros na classificação final:

1º Porsche 911 RSR GT Le Mans N° 7 Christian Fittipaldi e Wilson Fittipaldi Jr. SP – 372 voltas
2º Porsche 911T RSR N° 1 Carrera Antonio Hermann, Franz Konrad e Mikael Gustavson – 368 voltas
3º Porsche 911 RSR Carrera Nº 2 Maurizio Sala, Ornulf Wirdheim e André Lara Rezende – 361 voltas
4º BMW M3 Nº 3 Nelson Piquet, Johnny Cecotto e Ingo Hoffmann – 361 voltas
5º BMW 325i Nº 17 André Ribeiro e Walmir Benavides – 340 voltas
6º Aldee RTT Nº 0 Almir Donato, José Cerchiai e Manoel Rezende – 324 voltas
7º Chevrolet Opala Nº 18 Camilo Christófaro Jr., José Bel Camilo e Américo Bertini – 323 voltas
8º VW Passat Nº 61 Robby Perez, Mário Dalicane e Tadeu Kowalzuck – 322 voltas
9º Japamóvel/Voyage Nº 94 João Noboru Mitta, Suzane Carvalho e Júlio Machado – 321 voltas
10º Chevrolet Omega Nº 5 Dudu Pimenta, Camilo Christófaro Jr. e José Barreiro – 321 voltas
11º Ford Escort RS/Cosworth Nº 8 Klaus Heitkotter, Walter Travaglini e Eduardo Homem de Mello – 319 voltas
12º Aldee RTT Nº 43 Roman Kowalzuck, Plácido Iglesias e Astolfo Macedo – 319 voltas
13º Chevrolet Opala Sérgio Di Genova, Walter Garcia Neto e Eduardo Garroux – 317 voltas
14º Chevrolet Opala Nº 44 Tony Kanaan, Ênio Di Bonito, Renée Vanucci – 314 voltas
15º Aldee RTT Humberto Guerra, Djair Guerra e Gilberto Caspar – 313 voltas
16º BMW 325i Nº 63 Flávio Cabral, Cláudio Gontijo e Maurício Slaviero – 310 voltas
17º VW Voyage Guilherme Caspar, Valdir Guerra e Gustavo Canovas – 305 voltas
18º Aldee RTT João Adib Marques e Fábio Murari – 304 voltas
19º Ford Mustang Denísio Casarini, José Casarini e Daniele Molinari – 302 voltas
20º VW Voyage Antonio Oliveira, Hélio Saraiva e Edo Lemos – 301 voltas

Grid: 66 carros
Duração: 12h03min12s
Volta mais rápida: Christian Fittipaldi com Porsche RSR 911 em 1’43”438, média de 150,525km/h.
Pole Position: Porsche 911T RSR N° 1 Carrera Antonio Hermann, Franz Konrad e Mikael Gustavson.

O Porsche dos Fittipaldi liderou 346 das 372 voltas.