segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Os "cancelamentos" do automobilismo brasileiro em 2023

Caros amigos leitores! Depois de mais um afastamento temporário das atividades deste blog (dessa vez recebi a notícia de que serei pai, pela primeira vez!), volto à labuta com a promessa de não mais deixar um hiato desses nos afastar. E no retorno, trago para vocês uma breve reflexão acerca de dois acontecimentos relevantes nas decisões da Copa Truck e da Stock Car em 2002.

O termo cancelamento tem sido bastante usual no nosso cotidiano, principalmente no meio de comunicação através do qual estamos conversando neste momento. No tribunal da internet, não é raro pessoas serem julgadas sumariamente por atos, palavras, etc., colhidos em determinados momentos que não refletem a conduta usual dos sujeitos envolvidos (embora isso tenha suas exceções, é evidente).

Em 2022, posso destacar dois episódios que refletiram esse paradigma no automobilismo brasileiro, e que impuseram consequências de grande proporção para os pilotos Beto Monteiro e Gabriel Casagrande, em específico.

Na segunda corrida da 9ª etapa, disputada no início de novembro de 2022, no autódromo internacional de Goiânia, Beto Monteiro se envolveu em um entrevero com Roberval Andrade na curva 2, enquanto disputavam a 5ª posição. Na repetição das imagens do acidente, após uma análise mais fria e técnica do que aconteceu, é possível ver que o caminhão VW nº 88 (Beto Monteiro) derrapa na curva e toca na traseira do caminhão Mercedes Benz nº 15 (Roberval Andrade), o que a princípio poderia ser considerado um acidente de corrida, tendo em vista que ambos terminaram escapando do traçado.

Porém, o desenrolar dos fatos trouxe um impacto ainda maior ao ocorrido, pois o caminhão Mercedes Benz nº 72 do piloto Djalma Fogaça atingiu o lado esquerdo da traseira do caminhão do Roberval, quando vinha de motor cheio. Podemos dizer que essa batida que causou um acidente de grandes proporções visuais (graças a Deus!), pois apesar dos ferimentos causados ao piloto (Djalma terminou com alguns hematomas e a clavícula quebrada), os prejuízos foram restritos às perdas materiais.

Diante deste cenário, a direção de prova, sabiamente, optou pela interrupção da corrida, tendo os pilotos alinhado no grid novamente. Neste interím, após o abandono de Roberval Andrade (e sua despedida da luta pelo título), os comissários de prova decidiram pela exclusão de Beto Monteiro da corrida. Tal decisão, a nosso ver, mostrou-se precipitada e desproprocional ao que ocorreu, pois na necessidade de tomar uma medida punitiva imediata, cometeu-se mais um ato que alterou a dinâmica pela disputa do título (sem que com isso tenhamos a intenção de diminuir a conquista do campeoníssimo Welington Cirino).

É certo que o toque havido entre Monteiro e Roberval teve consequências graves para o piloto Djalma Fogaça, que nada tinha a ver com o que aconteceu entre os dois primeiros à sua frente. Aliás, o fato não poderia nem deveria passar ileso à disciplina dos comissários, servindo também como advertência para evitar problemas maiores no decorrer de uma prova decisiva para o campeonato. Um time penalty de 10 segundos, um acréscimo de tempo no resultado final, por certo cumpriria tal função.

Porém, decidir pela exclusão de um piloto que brigava pelo título, ainda enquanto os caminhões estavam parados no grid, não se mostra razoável, considerando que existem diversos profissionais atingidos por essa decisão, e não só o piloto. Ao que pareceu, o monstruoso acidente que envolveu Djalma Fogaça foi um catalisador para essa decisão, como uma imposição para uma resposta rápida e eficaz.

Digo ainda, que a maior reparação neste caso teria um fundo moral, pois sabedores das dificuldades enfrentadas pela equipe DF Motorsport, os pilotos envolvidos poderiam ao menos ajudar na reparação dos prejuízos auferidos pelo grande Fogaça.

Algo semelhante aconteceu com o piloto Gabriel Casagrande, na segunda corrida da 12ª e última etapa da temporada 2022 da Stock Car, disputada no dia 11 de dezembro em Interlagos/SP. Na ocasião, após a largada da corrida, Rubens Barrichello, Daniel Serra e Gabriel Casagrande chegaram lado a lado na segunda perna do S do Senna, em um espaço obviamente insuficiente para três carros. Barrichello foi o primeiro a rodar, ao frear para não bater em Daniel, sendo colhido na lateral traseira esquerda por outro competidor, enquanto Casagrande derrapou para o lado de fora da curva, tendo voltado logo em seguida para o traçado.

O problema é que Daniel estava justamente ao seu lado direito, logo depois da zebra, de forma que o contato entre ambos foi inevitável, culminando na rodada e quebra da suspensão traseira de Daniel. Não muito depois, veio a punição: Exclusão de Casagrande da corrida.

Novamente, vemos uma batida de corrida, causada por disputas mais acirradas (condizentes com uma decisão de campeonato) e sem qualquer intenção deliberada de alijar o concorrente da corrida. Quem conhece um pouco de pilotagem de carro de turismo, sabe que um bólido em desequilíbrio, que na volta à pista passa por cima da zebra, não proporciona ao piloto o controle adequado da direção, considerando também o pouco espaço para manobra, além dos diversos outros carros ao redor.

Então fica a indagação: Qual a necessidade de se proferir decisões tão drásticas, de forma tão sumária, sob o risco de cometer uma desproporcionalidade? Se o objetivo é garantir o resultado do campeonato dentro da pista, evitando o chamado "tapetão" (uma competição definida judicialmente nem sempre desvirtua o espírito desportivo. Muitas vezes somente o reforça), decisões como essas vão de encontro com tal diretriz. E para ser sincero, é muito melhor uma decisão judicial desportiva equânime, ainda que proferida posteriormente ao encerramento da competição, do que uma desproporção dada "na lata".

Será que precisamos levar para dentro das pistas aquela necessidade manifestada pela sociedade, de uma resposta rápida e repressiva aos erros cometidos? Aquela "celeridade" que muitas vezes culminam em erros irreparáveis? Acredito que não. Disputa se resolve na pista, e quando isso não é possível, é melhor esfriar a cabeça e pensar melhor no que se fazer, sob pena de interferir em algo que não pode ser repetido ou refeito.

Na próxima postagem, falaremos sobre uma injustiça cometida por um humor muito popular na década de 90, que interferiu negativamente na carreira de um dos maiores pilotos da história de nosso automobilismo: Rubens Barrichello.

2 comentários:

  1. Nos dois episódios, acredito que a melhor punição deveria ser um acréscimo de tempo, uma vez que na minha (humilde) opinião, não houve intenção dos pilotos punidos em tirar os outros competidores da corrida. No caso do Beto Monteiro, ele escorregou e não teve como evitar o toque no Roberval - aliás, esse movimento dos caminhões em escorregadas "de lado" é mais comum do que imaginamos. No caso do Gabriel, eu ainda acredito que ele deveria ter voltado para a pista com mais cuidado, mas ainda sim, não merecia a exclusão da prova.

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