Na expectativa da participação da equipe dupla formada pelas pilotos Mika Peixoto e Alê Menini, em companhia de Peixoto Júnior (pai de Mika) nas Mil Milhas de 2025, vamos relembrar um episódio de grande significado ocorrido na 19ª edição da prova, disputada em janeiro de 1989. Trata-se da participação da piloto Regina Calderoni, que fez jus à frase do ex-piloto Alex dias Ribeiro: Você pode ser vencedor sem ser campeão.
Disputar uma prova de resistência (1.609 km de distância percorrida), com mais de 11 horas de duração, que se prolonga entre a madrugada e a manhã, em um circuito com 7.960 metros de extensão que tinha de tudo (curvas de alta e de baixa, retas longas e mais curtas, subidas e descidas), não era para qualquer um.
Mas se você era mulher, tinha recursos limitados e estávamos no final dos anos 80, a "bronca" era ainda mais séria. E foi nesse cenário, que Regina Calderoni escreveu seu nome na história da prova, embora não tenha sido a primeira mulher a disputá-la (feito atribuído à Graziela Fernandes, na décima edição, em 1970).
Depois de sua participação na Stock Car Brasil em 1986 (a primeira de uma mulher na categoria), Regina decidiu disputar a mais importante corrida do automobilismo nacional em 1989. E os desafios começaram antes mesmo de a bandeira verde ser baixada, pois a organização da prova não queria aceitar a sua inscrição, sob o argumento de que sua carteira de piloto estava vencida há três anos.
Refutada a alegação, a qual Regina atribuiu como fruto de simples preconceito, ela só pôde se inscrever após recorrer à autoridade policial responsável pela delegacia de mulher. Mas ainda na tarde do sábado (a largada seria dada à meia-noite), ela e seu companheiro de equipe Milton Borges Vieira não tinham o combustível necessário para fazer a prova.
A solução foi encontrada após um anúncio feito na rádio (FM 89) pela própria Regina, quando o empresário Fábio dos Santos Silva lhe deu 200 litros de etanol após ouvir o apelo da piloto, que tinha 28 anos na ocasião. E os problemas não pararam por aí, pois nesse interim, teve o seu carro de passeio guinchado pela organização, sob a justificativa de que tinha sido estacionado em local reservado à imprensa.
Como problema pouco é bobagem, somou-se a isto o fato de que ela e Milton não receberam um box, pois como a inscrição foi efetuada "em cima da hora", a organização da prova justificou que três equipes ficariam sem boxe, considerando o volumoso grid de 75 carros (o maior da história até hoje).
Além disso, se agora Regina tinha o combustível para participar da prova, ainda lhe faltava a torre de abastecimento, que terminou sendo emprestada pela equipe do carro nº 30. Na corrida, o VW Passat nº 68 quebrou várias vezes, e com os reparos e arranjos feitos no box improvisado, o carro ainda completou 39 voltas das 204 totais. Na última quebra, foi necessário retirar o carburador, distribuidor e correia do próprio carro da piloto.
A partir daí, o carro ficou parado no box desde o meio da madrugada, e mesmo todo amarrado com arame, voltou à pista para completar as últimas cinco voltas. Estas voltas que tiveram sabor de vitória para Regina, bastante feliz por ter finalizado a prova à frente de outros 09 (nove) carros, pilotados apenas por homens. As voltas completadas pela dupla foram suficientes para deixá-la na 66ª posição.
E no vidro traseiro do Passat, um adesivo com uma singela homenagem ao seu mestre Expedito Marazzi, que a levou às lágrimas quando perguntada a respeito: - Ele foi meu professor e lutou quando quiseram me impedir de correr de na Stock Car.
Atualmente, Regina dá suas aceleradas em um Chevrolet Opala da categoria Old Stock.
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