Não sou jornalista esportivo, tão pouco exerço alguma função no meio automobilístico (infelizmente!). Sou apenas um entusiasta desse maravilhoso esporte, que acompanho desde os 7 anos de idade. Por acompanhar há um bom tempo várias categorias, sejam elas de monoposto, turismo, trucks ou arrancada, me proponho a falar sobre algumas impressões que tive durante esse tempo.
Hoje o automobilismo brasileiro vive uma crise em termos de formação de novos pilotos. O país, tido antes como um celeiro de pilotos de competição, hoje corre o risco de não ter nenhum brasileiro disputando a categoria máxima do automobilismo num futuro próximo. Isso ocorre muito em função do kartismo passar por uma fase deficiente, onde os custos altíssimos acabam afastando muito talentos latentes e outros que acabam por abandonar a carreira após alguns anos. Além dos custos, a desorganização e inércia das federações de automobilismo, além da entidade maior (CBA), são fatais para o desenvolvimento do automobilismo de base no país, que foi o responsável por hoje termos 8 títulos na F1, 5 títulos na Indy (4 títulos na categoria de acesso) e 6 vitórias na maior corrida do automobilismo americano (500 milhas de Indianápolis).
Mas parando para pensar, a gente vê que muitas coisas que dão certo por muito tempo, acabam sofrendo mudanças em um determinado momento da vida, ou até mesmo sofrem o fim. Nada funciona da mesma forma o tempo todo. E o automobilismo não foge à essa regra. No ano de 1970, pudemos ter a honra de ver o primeiro piloto brasileiro a vencer uma corrida na Fórmula 1: Emerson Fittipaldi. Até então, o Brasil já tivera quatro representantes (Chico Landi, Gino Bianco, Hermando da Silva Ramos e Fritz d'Orey) na Fórmula 1, porém nenhum deles tinha vencido alguma corrida ou disputado um campeonato regularmente. Com a contratação de Fittipaldi pela lendária equipe Lotus, do mago da engenharia automotiva Colin Chapman, o Brasil viu sua bandeira figurando entre outras tradicionais no maior campeonato do automobilismo mundial. E com a primeira vitória de Fittipaldi, em 1970, no circuito Norte-Americano de Watkins Glen, foi iniciada uma forte tendência pela formação de pilotos de fórmula no país, tendência essa que dura até os dias de hoje, porém com menor força se comparada à outros tempos. Os títulos de 1972 e 1974 de Emerson, só vieram a fortalecer o desejo de tornar o Brasil um país formador de campeões de Fórmula 1. Emerson Fittipaldi abriu os caminhos da Europa para os brasileiros, que posteriormente ainda conquistariam mais 6 títulos e vários recordes, alguns vigentes até hoje, com Nelson Piquet e Ayrton Senna.
Após o fim do projeto Copersucar, a equipe brasileira de F1 chefiada pelos irmãos Fittipaldi, Emerson continuou fazendo história, ao abrir o caminho do automobilismo norte-americano, tão desconhecido no Brasil até então, onde foi bicampeão das 500 milhas de Indianápolis e campeão da Fórmula Indy, e abriu caminho para as conquistas de Gil de Ferran, Helio Castroneves, Cristiano da Matta e Tony Kanaan.
Mas voltando aos dias atuais, o que presenciamos é a substituição do automobilismo de monoposto pelas corridas de turismo e campeonatos de stock cars. Por conta da crise das categorias de monoposto, muitos pilotos que fizeram carreira nas diversas F3, na Fórmula Indy, Fórmula 1, na antiga Fórmula 3000 (hoje GP2), entre outras, estão procurando cada vez mais campeonatos como a Stock Car V8, GT Brasil, Brasileiro de Marcas, entre outros, até mesmo a tão distante Nascar, onde em junho deste ano, Nelson Angelo Piquet, conquistou a pole position e a vitória na etapa extra-campeonato da Nationwide (categoria de acesso da Sprint Cup), disputada no tradicional circuito de Elkhart Lake, EUA. Essas foram a primeira vitória e pole position de um piloto Brasileiro em uma categoria principal Nascar, sem contar com o título da temporada 2011 conquistado por Pietro Fittipaldi, de apenas 15 anos, (neto de Emerson) na categoria Limited Late Model, uma espécie de divisão da Nascar que corre apenas no estado da Carolina do Norte.
Dessa forma, vejo que na realidade ocorre somente uma benéfica mudança de rumo no automobilismo Brasileiro. O país, que aprendeu a gostar do automobilismo com as corridas de monospostos, hoje tem o o cenário mais favorável para a conquista de novos espaços em campeonatos de turismo. Atualmente, temos dois Brasileiros com chances reais de vitória na Truck Series e em médio prazo na Nationwide (Nelsinho Piquet e Miguel Paludo), outro brasileiro disputando o grande Campeonato Alemão de Turismo numa equipe de ponta (Augusto Farfus) e tantos outros espalhados por outras categorias e até mesmo em provas de longa duração. Porque não pensar em termos pilotos brasileiros conquistando campeonatos na Nascar, no DTM, na V8 Supercars da Austrália e na tradicional 24 horas de Le Mans, onde o Brasil nunca foi vencedor e nunca deu a merecida atenção à mais famosa prova de longa duração do mundo? É hora de pensar que o automobilismo não se resume à F1, e que há categorias tão importantes quanto (do ponto de vista esportivo, midiático e até mesmo financeiro) a serem exploradas. Hoje, o momento é de direcionar o esforços e investimentos para campeonatos que ainda não somos familiarizados, para que num futuro próximo, possamos ter campeões mundiais também em categorias de turismo e stock car, repetindo o sucesso nacional nas corridas de monoposto dos anos 70, 80 e 90.