Após a 29ª edição, disputada em janeiro de 2001, a Mil Milhas Brasileiras iniciou uma fase de evolução que culminou em grids lotados e máquinas de alta performance, algumas delas nunca vistas em nossas pistas. Um exemplo disso foi o Audi TT-R da família Negrão, que disputou as provas de 2004 e 2005. E é sobre esse bólido que vamos falar hoje no blog.
Trata-se do exemplar utilizado pelo francês Laurent Aïello na temporada de 2002 do DTM, o conhecido Campeonato Alemão de Turismo, que no ano seguinte, foi utilizado pelo futuro campeão do certame Martin Tomczyk (2011). No fim de 2003, o carro foi mandado para o Brasil, estreando em nossas pistas na 32ª edição das Mil Milhas, disputada no aniversário de 450 anos da cidade de São Paulo, em janeiro de 2004.
Nos treinos, o bólido alemão registrou a 2ª melhor marca, com o tempo de 1min36s211, atrás apenas do Protótipo ZF Chevrolet, que seria seu principal rival nos anos em que esteve no Brasil. Na prova, terminou na 45ª posição, com 164 voltas completadas, após uma batida causada por problemas nos freios. Naquela edição, o Audi ainda ostentava a pintura vermelha e prata da temporada anterior do DTM, sendo que a tocada ficou com a família Negrão (Xandy, Xandinho e Guto).
O ano de 2004 ainda reservou muitas vitórias para a equipe, no campeonato brasileiro de endurance daquele ano, sendo que a principal delas foi nos 500 km de Interlagos. Na ocasião, registrou o tempo de pole em 1min31s5, marca esta que foi a melhor do ano até então no circuito, superada apenas pela Fórmula 1. A vitória veio com 04 voltas de vantagem sobre o Protótipo ZF. Outra vitória de destaque naquele ano foi nos 1000 km de Brasília.
Após vencer o Endurance de 2004, o Audi fora inscrito na Mil Milhas de 2005, depois de passar por alterações mecânicas que lhe conferiram maior confiabilidade, como câmbio com trocas no volante (borboleta) e freios ABS com disco de carbono, aliadas ao forte motor V8 4.0, com cerca de 450 cavalos. Nos treinos, que foram prejudicados pela insistente chuva que caiu naqueles dias em São Paulo, o bólido alemão ficou no 3º lugar no grid, com o tempo de 1min33s429.
Cabe lembrar que para aquela prova, a família Negrão convidou o então campeão da Stock Car, Giuliano Losacco, para disputar a prova em quarteto. Naquele ano, Losacco faria a mudança da RC Competições para a Medley Mattheis, na qual conquistou o seu 2º título na categoria. Já na disputa, o Audi tomou a liderança logo no início, após a largada com chuva e Xandinho Negrão ao volante. O duelo com o Protótipo ZF durou várias voltas, mas ao final, a vitória veio com 08 voltas de vantagem para o 2º colocado (o ZF novamente!).
A verdade é que esse carro andava muito bem, tanto na chuva como no seco, e o esquema profissional da equipe ajudava muito nas performances em provas de longa duração. A exceção foi os 1000 km de Brasília, quando um problema no alternador fez com que Guto Negrão e Losacco perdessem 31 voltas nos boxes, enquanto lideravam a prova após largarem na 2ª posição. Outro registro importante foi nos 500 km do Rio de Janeiro, quando uma capotagem nos treinos quase alijou o alemão da disputa. Porém, mesmo largando da última posição, Xandy Negrão e Losacco venceram a prova, após um duelo com o Protótipo ZF, que teve de abandonar em virtude do superaquecimento do motor. Mesmo com a capotada no dia anterior, o Audi rodou como um relógio suíço!
O carro era um dos grandes favoritos para a Mil Milhas 50 anos, disputada no dia 21 de janeiro de 2006. Porém, em virtude de mudanças no regulamento, Xandy Negrão resolveu não participar da prova, pois seria necessária a colocação de lastros no carro para atingir o peso mínimo estabelecido, medida esta que fora desaconselhada pelos técnicos da fábrica.
Certamente, o Audi TT-R da família Negrão foi um carro que registrou seu nome na história do automobilismo brasileiro, sendo protagonista de várias vitórias em provas de longa duração, além de ser dono de uma beleza marcante.