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terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Regina Calderoni e seu VW Passat em 1989

Se até hoje o machismo desnecessário (é essencial ser homem, mas na medida certa) e preconceito com as mulheres ainda é forte no automobilismo, o que dirá nos anos 80, quando a participação feminina no esporte era representada por alguns casos em que o tabu foi quebrado com altas doses de perseverança e sacrifício?

Um desses exemplos foi a italiana de Veneza, radicada no Brasil desde os 05 anos de idade, Regina Calderoni. Nos anos 80, ela se tornou a primeira mulher a correr na Stock Car Brasil, tendo feito participações em outras categorias, como o Brasileiro de Marcas. E em 1989, último ano que as Mil Milhas foram disputadas no traçado antigo de Interlagos, Regina (então com 28 anos) fez história ao alinhar seu VW Passat Força Livre depois de brigar por uma vaga.

Antes de tudo, a organização da prova sequer queria aceitar a sua inscrição, sob o argumento de que sua carteira de piloto estava vencida desde o ano de 1986. Regina alegou que isto fora uma mera desculpa, e teve que recorrer à Delegacia da Mulher para assegurar sua vaga no grid. Só que até a tarde do sábado, antes de largada, ela sequer tinha o combustível (etanol) para disputar a prova. A solução veio após colocar um anúncio na rádio FM 89, e Fábio Santos da Silva fez uma doação de 200 litros de álcool.

Só que os problemas não pararam por aí, pois a organização da prova havia guinchado seu carro de uso particular sob o argumento de que o mesmo estava estacionado em local reservado à imprensa. Além disso, ela e seu companheiro de equipe Milton Borges Vieira não receberam um box, tendo o diretor do Centauro Motor Clube à época, José Roberto Beilstrein, informado que 03 três equipes não receberam box em razão de terem feito a inscrição na última hora.

Como tudo pode ficar pior, Regina e Milton não tinham uma torre de abastecimento, e só conseguiram uma após a equipe do carro inscrito com o nº 30 ter lhe emprestado o equipamento. Na corrida, o VW Passat quebrou várias vezes, e com os reparos e arranjos feitos pela equipe, o carro ainda completou 39 voltas das 204 completadas pelo vencedor. Na última quebra, foi necessário retirar o carburador, distribuidor e correia do próprio carro da piloto. As voltas completadas pela dupla foram suficientes para deixá-la na 66ª posição de um grid (o maior da história) formado por 75 carros, o que deixou Regina bastante feliz, por estar à frente de outros 09 (nove) carros, pilotados apenas por homens.

E no vidro traseiro do Passat, um adesivo com uma singela homenagem ao seu mestre Expedito Marazzi, que a levou às lágrimas quando perguntada a respeito: - Ele foi meu professor e lutou quando quiseram me impedir de correr de na Stock Car.




2 comentários:

  1. Taí uma amostra de que não podemos desistir nas adversidades. Regina e equipe foram bravos!!

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  2. Verdade irmão. Uma prova de persistência e firmeza no objetivo de disputar a prova. Isso para mim já é uma vitória.

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