"Um espaço reservado para falar das lembranças, histórias e episódios dos mais de 60 anos de Mil Milhas Brasileiras. E de outras coisas mais!"

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Chevrolet 1931 V6 de arrancada de Arthur Nutti Jr.


A postagem de hoje vai tratar de um carro um carro que possui idade e história nas mesmas proporções. Trata-se do Chevrolet 1931 do advogado paulista Arthur Nutti Jr., que durante muito tempo participou das provas de arrancada disputadas no Autódromo de Interlagos, até meados de 2007. Na edição de julho de 1969, a revista Autoesporte fez uma matéria com este carro, que na época já disputava provas em Interlagos e desenvolvia cerca de 150 km/h, devido às várias modificações mecânicas que incluíam novo motor de caminhão Chevrolet 1951, com cerca de 140 cv.

Trinta anos depois (Ed.425), a revista automotiva supracitada voltou ao Autódromo de Interlagos para fazer uma matéria sobre as provas de arrancada, que estavam em franca ascensão na época, vivendo seu auge por volta de 2003 e 2004. E lá estava o Chevrolet 1931 novamente, disputando as puxadas com veículos bem mais novos! Para facilitar o entendimento da história desse carro, vamos organizá-la em tópicos:

1932: O carro é trazido para o Brasil e o Exercito de São Paulo requisitou-o ao seu então dono para que fosse utilizado durante a Revolução Constitucionalista, que estava ocorrendo. Quando o veículo foi devolvido, logicamente estava em frangalhos. Ao dono não restou outra alternativa, senão guardá-lo por um longo tempo no galpão de um sítio.

1964: Ocorrem as primeiras provas de arrancada em Interlagos, chamadas na época de rachas - termo este que acompanhou a categoria por muitos anos e só atrasou seu desenvolvimento - e o atual proprietário, Sr. Arthur Nutti Jr. adquire o Chevrolet de um outro participante. Na ocasião, o Chevy era o retrato de uma batalha: a lataria tinha vários furos de bala e a capota simplesmente não existia.

1969: Na época da reportagem da Autoesporte, o carro era utilizado no dia-dia pelo proprietário, juntamente com a função de levar noivas para a igreja e até mesmo participou de um comercial da Chrysler, fazendo o papel de carro de fuga da dupla Bonnie & Clyde.

Década de 90: O Chevrolet 1931 passa a disputar as provas em Interlagos movido pelo propulsor 4.1 seis cilindros do Opala, que gerava cerca de 180 cavalos. Nessa época o carro ainda era utilizado no trânsito, quando o carro de uso diário do proprietário ficava na garagem, por conta do rodízio.

2004: Melhor tempo registrado nos 330 metros da reta de Interlagos: 12s758 - 3ª Etapa (15/01/2004)

2005: Melhor tempo registrado nos 201 metros em Interlagos: 9s200 - 4ª Etapa.

2007: Com o fim do Campeonato Paulista de Arrancada (a troca do asfalto de Interlagos forçou o término das provas de arrancada), o Chevy não apareceu mais em provas da modalidade.





sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Série nomes que fizeram/fazem a Stock Car Brasil - Parte V: Chico Serra e Paulo de Tarso Marques


Hoje, trago mais dois nomes de grande importância para a Stock Car: Paulo de Tarso Marques e Chico Serra.

Chico Serra: Francisco Adolpho Serra, ou simplesmente Chico Serra, nasceu em 03 de fevereiro de 1957 na cidade de São Paulo. O primeiro contato de Chico com a Stock se deu na última etapa do campeonato de 1980, quando disputou a prova para conhecer o Opala Stock Car que utilizaria na Mil Milhas de 1981, prova esta que venceria formando trio com Zeca Giaffone e Afonso Giaffone Jr. Na primeira experiência com o carro, ele acabou se envolvendo em um acidente e não terminou a prova. Porém, Chico só passaria a correr regularmente na temporada de 1986, e a primeira vitória só viria em 1988, na 7ª etapa, disputada em Interlagos. Ao fim da temporada de 1990, ele deu uma pausa na Stock, e só voltaria a disputá-la em 1993, o último ano do Opala na categoria.

Chico só voltou a ganhar uma prova na Stock em 1998, mas a partir daí sua carreira deu uma guinada: Em 1999, último ano em que o Chevrolet Omega foi utilizado, ele conquistou o campeonato após 07 vitórias. No ano seguinte, a categoria passou a utilizar o chassi tubular coberto com a carenagem inspirada do Chevrolet Vectra, utilizando ainda a mecânica Chevrolet 6 cilindros. E Chico levou o campeonato mais uma vez (com 06 vitórias). Mesmo com a mudança da mecânica Chevrolet em 2001, que deu lugar ao V8 americano utilizado na categoria de acesso da Nascar (atual Nationwide Series), ele continuou ganhando, e conquistou seu tricampeonato com 04 vitórias. Vale ressaltar que todos os títulos foram conquistados em parceria com a Equipe WB Motorsport, de Washington Bezerra.

Em 2002, Chico Serra ainda seria vice-campeão, perdendo o título na última etapa para Ingo Hoffmann. A partir daí, sua performance não foi mais a mesma, vencendo apenas duas corridas (a última da temporada 2003, em Interlagos e oitava etapa de 2006, em Brasília) até sua aposentadoria, em 2007. O ano de 2008 foi marcado por sua experiência com a Fórmula Truck, mas em 2009 ele estava de volta a Stock, onde se aposentou definitivamente ao final daquela temporada.

Resumo da carreira de Chico Serra na Stock Car Brasil:

Títulos: 03 (1999, 2000 e 2001)
Vice-campeonatos: 04 (1988 - 1990 e 2002)
Vitórias: 32
Poles: 23
Pódios: 71
Corridas disputadas: 232
Temporadas: 1986 - 1990; 1993 - 2007 e 2009.

Algumas equipes em que correu: WB Motorsport, Full Time, RC3 Bassani e Avallone Motorsport.

Protótipo Opala utilizado na Temporada de 1990

http://image3.redbull.com/rbcom/010/2014-07-29/1331666983056_2/0010/1/1500/1000/2/chico-serra-(1999).jpg
1999

2000

2001

2007

2009


Paulo de Tarso Marques: Nascido em 1953 na capital paranaense, Paulo de Tarso estreou na Stock Car em 1986, após ter obtido bons resultados no Brasileiro de Marcas e Pilotos. Entre 1988 e 1993, ele se dividiu entre as funções de piloto e preparador de equipe, neste caso, a Action Power. Em sua carreira na Stock, venceu em uma ocasião (a última etapa de 1992, disputada em Interlagos) e foi ao pódio por oito vezes. A última temporada completa disputada foi a de 1993, enquanto que de 1994 a 1998, disputou apenas corridas esporádicas. Após encerrar a carreira como piloto na Stock, Tarso se dedicou somente à sua equipe, cuja trajetória na categoria foi vitoriosa:

1995: Vice - campeã de pilotos com Xandy Negrão.
1996 - 1998: Campeã de pilotos com Ingo Hoffmann (e vice com Xandy Negrão).
2001: Campeã de pilotos com Tiago Marques, na categoria Light. O título veio após 03 vitórias.
2004: Vice-campeã entre as equipes, com Cacá Bueno (vice campeão entre os pilotos, com 03 vitórias) e Tiago Marques.
2005: Campeã entre as equipes da Stock, com os pilotos Cacá Bueno (vice campeão entre os pilotos, com 04 vitórias) e Tiago Marques.
2007: Vice-campeã de pilotos com Rodrigo Sperafico (02 vitórias).

* Em 1999 e 2000 a equipe não participou da Stock.

Infelizmente a Action Power teve que encerrar suas atividades em 2009, após o incêndio na carreta que transportava todo o equipamento da equipe, que havia vencido a etapa de Interlagos horas antes. No incêndio, foram perdidos três carros, inúmeras peças e equipamentos utilizados nas corridas. O piloto Marcos Gomes, que havia vencido a última corrida realizada, e que estava classificado para o play-off do campeonato, continuou a temporada correndo pela equipe RCM, de Rosinei Campos.

Resumo da carreira de Paulo de Tarso Marques na Stock Car Brasil:

Vitórias: 01 (Interlagos - 1992)
Poles: 03 (Curitiba - 1991, Interlagos - 1992 e Guaporé - 1992)
Pódios: 08
Melhor colocação no campeonato: Vice-campeão em 1992.
Temporadas: 1986 - 1993
Corridas disputadas: 66


Temporada 1992

Temporada 1991 - Note que o piloto está posicionado no centro do carro

A carreta destruída depois do incêndio e o carro de Marcos Gomes durante a etapa de Interlagos







terça-feira, 4 de novembro de 2014

O trágico acidente de Zeko Gregoricinc em 1985.


O post de hoje vai relembrar uma história cujo final foi trágico, e que não teve o registro merecido por parte da imprensa. Trata-se do acidente fatal que envolveu o piloto da Stock Car Zelimir Gregoricinc, o Zeko. O objetivo é trazer aos leitores a narrativa dos fatos ocorridos naquele distante ano de 1985, a título de registro, e não para expor o sofrimento alheio, até porque o sensacionalismo não é o objetivo desse espaço.

Era o dia 18 de agosto de 1985, ocasião em que era disputada no Autódromo de Interlagos a 5ª etapa do Campeonato Brasileiro da Stock Car. Zelimir Gregoricinc tinha 42 anos e estreou na Stock em 1983, após disputar a antiga Divisão 3 por cerca de 03 anos. Não figurava entre os mais rápidos do grid, e na corrida em que sofreu o fatídico acidente, largou na 18ª posição. Após queimar a largada, Zeko fez uma série de ultrapassagens, chegando a ocupar a 10ª posição na curva 2. Porém, no final do antigo retão, ele acabou perdendo o controle do seu Opala, aparentemente por problemas nos freios e terminou atingindo de frente o muro da curva 3. No choque, o tanque de combustível - que estava com 130 litros de álcool, já que era a 1ª volta da prova - rachou ao meio pois, segundo relatos da época, era feito de PVC. Encharcado de gasolina, o macacão do piloto - confeccionado em brim - ficou em chamas, e só lhe restou rolar pela grama na tentativa de apagar o fogo. O socorro foi muito prejudicado, pois o bombeiro demorou cerca de 15 segundos para conseguir destravar o gatilho defeituoso do extintor de incêndio, e Zeko foi finalmente socorrido pela equipe médica, com queimaduras de 3º grau nas costas e nas pernas.

Levado inicialmente para a UTI do Hospital Zona Sul, passou depois pelo Hospital Municipal do Tatuapé, e posteriormente foi transferido para o Hospital Samaritano. Ao todo, o piloto passou 12 dias internado, até falecer em virtude das queimaduras. Durante o tempo de internação, Tommy, seu irmão gêmeo, que também era piloto de Stock Car, se dispôs a doar parte de sua pele, na tentativa de salvá-lo.

Zeko também pilotava aviões e já havia sofrido 04 acidentes. Inclusive, seu irmão mais velho, Rasputin, morreu em um acidente aéreo, após a explosão do avião que dirigia.

Muito se falou das condições do carro do piloto, que mesmo assim, passou pela vistoria técnica da organização. Na época não eram exigidos tantos itens de segurança, como macacão anti-chamas e revestimento externo de borracha do tanque. Após o acidente, vários itens de segurança dos carros tiveram que ser revistos, pois a imagem do acidente ficou gravada na memória dos pilotos por muito tempo. Na ocasião, Zeko dividiu os boxes com o campeoníssimo Ingo Hoffmann, que foi um dos pilotos que mais chamaram a atenção para a questão da segurança.

Enfim, esse post teve como finalidade registrar uma página triste da história do nosso automobilismo, mostrando o quanto a organização das competições teve que evoluir diante das adversidades, apesar de ainda acontecerem acidentes por conta de atitudes amadoras da organização das categorias e autódromos. E que nem tudo eram flores no passado do esporte a motor, apesar do saudosismo que nos move.