"Um espaço reservado para falar das lembranças, histórias e episódios dos mais de 60 anos de Mil Milhas Brasileiras. E de outras coisas mais!"

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Ford Courier Si Tuning 1998

Para quem já era apaixonado por carros no início dos anos 2000, a foto de capa dessa matéria despertará boas lembranças. Sim, em meados de 2003, vivíamos o auge do "tuning", um estilo de modificação automotiva que prezava pelo visual externo e/ou interno dos veículos. O que hoje pode parecer um tanto quanto chamativo, naquela época era sensação nas ruas.

Existia tuning para todos os gostos e bolsos, desde modificações mais leves que incluíam rodas maiores, suspensões mais baixas (seja a ar, com molas esportivas, ou simplesmente cortando as molas originais!), películas mais escuras nos vidros e spoilers dianteiros e laterais, até modificações mais radicais, como parachoques mais largos feitos em fibra, com telas metálicas onde antes vinham apliques de plástico (grades frontais, saídas laterais de ar, etc.) e adoção de luzes neon (geralmente na cor verde) na parte de baixo do carro.

Era de virar o pescoço quando um fiesta, corsa, gol, palio, etc., passava pela rua equipado com alguns dos itens acima, além de escapamento esportivo roncando mais alto (ainda que o motor fosse original ou com modificações simples, como um filtro de ar esportivo e sistema de exaustão dimensionado) e a carroceria lisa (sem emblemas e algumas vezes sem as maçanetas das portas). Há quem investisse pesado em sistemas de som também, que iam muito além da qualidade e força do palco sonoro, adotando apliques e revestimentos em acrílico, iluminados por lâmpadas de neon.

Nessa época, eu estudava na parte baixa da cidade (mais precisamente no Bairro de Jatiúca), e quando saía da escola para ir pegar o ônibus de volta para casa, passava na frente de uma oficina de pinturas e fibra que ficava bem na Avenida Júlio Marques Luz (antiga Avenida Jatiúca), que já foi mais conhecida pela grande quantidade de lojas de carros usados e oficinas mecânicas.

Sempre com alguns carros sendo reparados ou modificados, essa oficina (Oficina Nota 1000) tinha como carro propaganda uma Ford Courier azul, que há pouco tempo vim saber que se tratava de um modelo SI 1.4 1998, e que foi meu "sonho de consumo de adolescente" por muito tempo. Eu passava pela calçada esticando o pescoço para observar o maior número de detalhes possível dos carros, em tempos em que o máximo que um celular fazia eram ligações, envio de sms e o tal do joguinho da serpente. Câmeras digitais estavam engatinhando por aqui e eu só vim ter uma no ano de 2006.

O carro era equipado externamente com belas rodas de liga leve (tradicional marca Binno) e pneus de perfil baixo para a época. Mas o que mais impressionava eram os parachoques modificados, sendo o traseiro similar aos de carros de competição (com extrator de ar) e o dianteiro com as entradas de ar e grades substituídas por telas metálicas. Nas laterais, ainda tinham aletas inferiores e dois cortes paralelos, no melhor estilo Audi RS4 (lançada em meados de 2001).

Completava o visual da traseira a capota marítima e as lanternas com apliques fumê nas luzes de ré e direcionais. Nem as maçanetas passaram despercebidas, pois foram pintadas em prata, para combinar com o belo azul da carroceria.

O interior, apesar de eu não ter fotos, não ficou esquecido. Lembro bem que o painel era prata e tinha apliques (molduras, saídas de ventilação, detalhes das forrações de portas, etc.) pintados no mesmo tom de azul da carroceria. E a modificação era ainda mais realçada com volante esportivo, relógios sobrepostos no painel e bancos em couro com detalhes em azul.

Guardei na memória esse carro, e sempre que o assunto era o passado dos carros equipados de Maceió/AL, tinha por obrigação citar essa courier. Mas faltava uma foto bem nítida e detalhada da criança. Bem, hoje finalmente a consegui, após breve consulta ao acervo do jornal Gazeta de Alagoas. E compartilho com você, seja de Maceió/AL ou de qualquer lugar, essa memória sobre rodas.

Ao que parece, esta Courier continua licenciada, desta feita no Estado de São Paulo, embora seu primeiro licenciamento tenha ocorrido no Estado do Maranhão.

Fonte: Jornal Gazeta de Alagoas (encarte Gazeta Automóvel, de 26 de fevereiro de 2004.



quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

O único 2º lugar de Zeca Giaffone - 1985

Se nos anos 80 as Mil Milhas Brasileiras tivessem sobrenome, esse por certo seria Giaffone. Das cinco edições disputadas naquela década, Affonso venceu a edição de 1981 e Zeca, além de 1981, venceu também em 1984, 1986, 1988 e 1989.

Só que quando não esteve no ponto mais alto do pódio, a única vez que Zeca terminou entre os três primeiros foi na XV edição, disputada em 25 de janeiro de 1985. Logo de cara, aquela corrida foi marcada pela alteração do procedimento na largada, pois, em virtude do impressionante acidente do ano anterior, a largada foi no esquema Le Mans (com os carros alinhados na lateral da pista, dispostos na posição de 45º uns dos outros), sendo com um piloto ao volante, enquanto outro atravessava a pista para acionar a chave geral do carro.

A dupla Paulo Gomes/Fábio Sotto Mayor dominou as Mil Milhas de 1985 do início ao fim, pois além de largar da pole position, liderou a prova de ponta a ponta, culminando com a quebra do recorde de duração (11h45min09s), sendo os primeiros a terminarem abaixo das 12 horas.

Para Zeca e Affonso, restou a conquista do segundo lugar após 202 voltas, duas voltas atrás dos vencedores, e cinco de vantagem para o trio que terminou no terceiro lugar (Camilo Christófaro Jr., Américo Bertini e Neimer Helau, com o Opala Stock Car nº 18 da Escuderia Lobo).




sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Ford Maverick Turismo 5000 - Mil Milhas de 1986

Em 2023, falamos sobre a 16ª edição das Mil Milhas Brasileiras, sobretudo quanto ao grid em número limitado daquela prova. Mas quem não quis saber nada disso foi o trio Fausto Wajchenberg (vencedor da prova em 1983), Sérgio Di Gênova (piloto da Turismo 5000) e Edmilson Santilli (filho do ex-piloto e preparador Waldemar Santilli), que alcançou a oitava posição na classificação geral (foram 194 voltas completadas).

O Maverick 1975 nº 7, utilizado pelo trio naquela prova, era derivado da saudosa categoria Turismo 5000, que fazia a alegria dos amantes de automobilismo na primeira metade dos anos 80, com grids lotados de Maverick's, Dodge Dart e até mesmo Ford Galaxie, em corridas no veloz anel externo de Interlagos. Mais especificamente, foi o último campeão da categoria, em 1986.

E para quem pensar que esse carro se perdeu no tempo, o belo Ford foi mantido guardado e conservado pela família do piloto Sérgio Di Gênova, já falecido.

*Não temos qualquer direito sobre as fotos que ilustram a matéria.





domingo, 12 de janeiro de 2025

Luiz Paulo Leão - (1952 - 2025)

Na última sexta-feira (10), a comunidade automobilística alagoana recebeu com pesar a notícia do falecimento do piloto Luiz Paulo William Leão (72 anos), ocorrido na capital paulista, em virtude de problemas cardíacos.

Luiz Paulo, de tradicional família industrial de Alagoas, tinha dupla nacionalidade (nasceu nos EUA, de mãe norte-americana) e começou a pilotar com 16 anos de idade, tendo disputado várias categorias durante 40 anos de carreira, tais como: Pernambucano de Kart, Divisões 1 e 3, Fórmulas VW e Ford, Spyder Race SP e PE, Copa Corsa e corridas de longa duração. Todos com quem conversamos tinham uma opinião uníssona sobre Paulo: Um verdadeiro cavalheiro.

Nossos sentimentos à família e amigos, em especial ao seu filho, Luiz Cláudio, com quem tivemos a oportunidade de conversar a respeito de seu Honda Civic Si em setembro de 2020 (confira a matéria neste link).














Paulo e seu Ford Mustang GT 5.0 V8 2018 - Essas duas últimas fotos foram feitas por mim, em um encontro comemorativo da saudosa concessionária Cycosa, em abril de 2019



quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Regina Calderoni e seu VW Passat - 1989

Na expectativa da participação da equipe dupla formada pelas pilotos Mika Peixoto e Alê Menini, em companhia de Peixoto Júnior (pai de Mika) nas Mil Milhas de 2025, vamos relembrar um episódio de grande significado ocorrido na 19ª edição da prova, disputada em janeiro de 1989. Trata-se da participação da piloto Regina Calderoni, que fez jus à frase do ex-piloto Alex dias Ribeiro: Você pode ser vencedor sem ser campeão.

Disputar uma prova de resistência (1.609 km de distância percorrida), com mais de 11 horas de duração, que se prolonga entre a madrugada e a manhã, em um circuito com 7.960 metros de extensão que tinha de tudo (curvas de alta e de baixa, retas longas e mais curtas, subidas e descidas), não era para qualquer um.

Mas se você era mulher, tinha recursos limitados e estávamos no final dos anos 80, a "bronca" era ainda mais séria. E foi nesse cenário, que Regina Calderoni escreveu seu nome na história da prova, embora não tenha sido a primeira mulher a disputá-la (feito atribuído à Graziela Fernandes, na décima edição, em 1970).

Depois de sua participação na Stock Car Brasil em 1986 (a primeira de uma mulher na categoria), Regina decidiu disputar a mais importante corrida do automobilismo nacional em 1989. E os desafios começaram antes mesmo de a bandeira verde ser baixada, pois a organização da prova não queria aceitar a sua inscrição, sob o argumento de que sua carteira de piloto estava vencida há três anos.

Refutada a alegação, a qual Regina atribuiu como fruto de simples preconceito, ela só pôde se inscrever após recorrer à autoridade policial responsável pela delegacia de mulher. Mas ainda na tarde do sábado (a largada seria dada à meia-noite), ela e seu companheiro de equipe Milton Borges Vieira não tinham o combustível necessário para fazer a prova.

A solução foi encontrada após um anúncio feito na rádio (FM 89) pela própria Regina, quando o empresário Fábio dos Santos Silva lhe deu 200 litros de etanol após ouvir o apelo da piloto, que tinha 28 anos na ocasião. E os problemas não pararam por aí, pois nesse interim, teve o seu carro de passeio guinchado pela organização, sob a justificativa de que tinha sido estacionado em local reservado à imprensa.

Como problema pouco é bobagem, somou-se a isto o fato de que ela e Milton não receberam um box, pois como a inscrição foi efetuada "em cima da hora", a organização da prova justificou que três equipes ficariam sem boxe, considerando o volumoso grid de 75 carros (o maior da história até hoje).

Além disso, se agora Regina tinha o combustível para participar da prova, ainda lhe faltava a torre de abastecimento, que terminou sendo emprestada pela equipe do carro nº 30. Na corrida, o VW Passat nº 68 quebrou várias vezes, e com os reparos e arranjos feitos no box improvisado, o carro ainda completou 39 voltas das 204 totais. Na última quebra, foi necessário retirar o carburador, distribuidor e correia do próprio carro da piloto.

A partir daí, o carro ficou parado no box desde o meio da madrugada, e mesmo todo amarrado com arame, voltou à pista para completar as últimas cinco voltas. Estas voltas que tiveram sabor de vitória para Regina, bastante feliz por ter finalizado a prova à frente de outros 09 (nove) carros, pilotados apenas por homens. As voltas completadas pela dupla foram suficientes para deixá-la na 66ª posição.

E no vidro traseiro do Passat, um adesivo com uma singela homenagem ao seu mestre Expedito Marazzi, que a levou às lágrimas quando perguntada a respeito: - Ele foi meu professor e lutou quando quiseram me impedir de correr de na Stock Car.

Atualmente, Regina dá suas aceleradas em um Chevrolet Opala da categoria Old Stock.






quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Escuderia Lobo nas Mil Milhas de 1983

Se durante muitos anos a imagem que o público e os competidores de provas em Interlagos tinham da Escuderia Lobo era do próprio Lobo do Canindé ao volante, a partir dos anos 80 essa realidade mudou, quando a mítica figura de Camilo Christófaro passou a chefiar as atividades de boxe.

Fora das pistas, Camilo participou ativamente na preparação dos carros de seu filho, Camilinho, e de outros pilotos de renome, obtendo grande sucesso. Isso aconteceu, por exemplo, na 13º edição das Mil Milhas Brasileiras, disputada em 30 de janeiro de 1983.

Embora a vitória na geral não tenha vindo, a Escuderia Lobo conquistou a terceira posição na classificação geral, com o Chevrolet Opala nº 17 de Camilo Christófaro Júnior, José Luiz Munhoz e Américo Bertini Neto, que ficou seis voltas atrás do Volkswagen Passat Hot Car nº 9 de Valdir Silva/Vicente Correa/Fausto Wajchemberg. E ainda, conquistou o 6º lugar na geral, desta feita com o Chevrolet Opala nº 28 de Johannis Likoropoulus e Antônio Alexandre Filho, que completou 193 voltas.