"Um espaço reservado para falar das lembranças, histórias e episódios dos mais de 60 anos de Mil Milhas Brasileiras. E de outras coisas mais!"

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Piloto José Paulo Leão (PE)

Eu não costumo acreditar em coincidências, mas sim, numa junção de fatores que levam determinados eventos a acontecerem. Apesar de também não conceber que o destino é algo imutável, inexorável, não duvido que em cada acontecimento, por mais corriqueiro ou despretensioso que seja, existe uma força inteligente por trás dele.

Um exemplo disso foi como conheci um pouco da história do piloto pernambucano José Paulo Leão. Há algumas semanas recebi pelo whatsapp (não me lembro de quem, sinceramente) um print de uma postagem de um senhor chamado Moacir Souza Gomes, ao que me parece, coordenador de equipe nos anos 90 em corridas disputadas no Autódromo Internacional Ayrton Senna, em Caruaru (PE).

Essa postagem traz a foto do Chevrolet Opala Stock Car do piloto natural de Bezerros (PE), com patrocínio da concessionária Chevrolet Agreste Veículos (Caruaru - PE). Paulo era neto e filho dos conhecidos Zé Leão e Zezinho Leão, respectivamente. Conforme informações recebidas do meu grande amigo Rômulo Amorim, que também correu de Opala em Caruaru entre 1997 e 2006, Paulo faleceu em 1996, vítima de um acidente de carro (dirigia um Fiat Uno 1.5 R) no Rio Grande do Norte.

Um dos destaques da carreira do piloto, no período entre 1992 e 1996, foi o quinto lugar obtido na I 100 Milhas de Caruaru (51 voltas), disputada em 20 de março de 1994, oportunidade em que dividiu a tocada do carro com André Macedo.

Só que para minha surpresa, recebi no início do mês um comentário do leitor Bruno Araújo, amigo do filho de Paulo Leão, me perguntando se tinha mais informações sobre ele. Na hora não associei os fatos, mas um tempo depois veio o "estalo" de que era o mesmo piloto cujo carro foi retratado na postagem do sr. Moacir Gomes. E é claro que não poderia deixar essa história de lado. 

Então, fico muito feliz pela oportunidade de poder contar essa parte da história do automobilismo nordestino. Preservar o passado do esporte a motor é um compromisso nosso, e mostrar o quanto somos apaixonados pelas competições, é um dos nossos recursos para mudar o presente e ter um futuro melhor no automobilismo local.





domingo, 21 de setembro de 2025

Kit turbo Ishi nos motores CHT 1.6: O veneno das ruas com garantia de fábrica

Se existe um som (sim, é música para os nossos ouvidos) que causa arrepios em praticamente todos os entusiastas de carros preparados, é o do funcionamento de um motor sobrealimentado enchendo a turbina e virando o ponteiro do conta-giros para o outro lado. E se tiver uma válvula de prioridade para "espirrar", melhor ainda.

Partindo do esporte a motor e passando pelas ruas ao longo das décadas, o turbo deixou de ser um equipamento à parte (instalado pelos proprietários após os carros saírem das concessionárias) para se tornar versão de fábrica de motorização de inúmeros modelos, em diversos seguimentos. Entre os carros populares, podemos citar o impacto que a Fiat causou em 1994, ao lançar o Uno 1.4 Turbo, e Volkswagen no ano de 2001, com o Gol/Parati Geração III 1.0 16v.

Mas antes disso, quem queria ter um carro nacional turboalimentado precisava recorrer às preparadoras que não tinham vínculo oficial com as fábricas, o que significava realizar uma alteração drástica na mecânica e a perda da garantia de fábrica.

De olho nisso, a IHI Turbo, gigante japonesa na fabricação de turbocompressores, tomou a iniciativa, através da Ishikawajima do Brasil, de lançar no mercado nacional o kit Ishi Turbo, que continha filtro de ar, carburador, coletor de admissão, coletor de escape, sistema completo de escapamento, embreagem, distribuidor, junta de cabeçote, calços de inox para redução da taxa de compressão.

Esses kits eram vendidos como opcional em concessionárias Ford, como a tradicional Souza Ramos (SP), para modelos como Escort, Corcel, Del Rey e Belina, e a promessa era de 25% a mais de potência, que faziam o motor CHT 1.6 Fórmula do Escort (MK3) ir de 86 cv para cerca de 108 cv, com garantia de fábrica.

Confesso que não fazia a mínima ideia da existência dessa história, e foi graças ao amigo Paulo Mello que pudemos contá-la aqui no blog. Paulo participou do teste de desenvolvimento do Kit Ishi Turbo, sendo responsável pela parte de resistência, cujos testes eram feitos no saudoso Autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

Ele nos contou que os trabalhos tiveram apoio da Ford, e que a turbina era regulada para 0,5 kg de pressão, sendo que na dinâmica do funcionamento, o caracol não forçava a entrada de ar no carburador, mas sim, puxava o ar que entrava nele. Em relação aos testes na pista, a Ford estabeleceu as velocidades que deveriam ser atingidas em cada curva do circuito, como forma de definir a carga (força centrífuga) à qual o motor seria submetido (sobretudo quanto à retomada e aceleração).

Foram contratados dois pilotos, e os tempos de volta não podiam ser mais baixos que 2min48s, sendo que na época, os Dodge v8 da Turismo 5000 chegavam a fazer 2min25s. Essa marca foi estabelecida tendo em vista o desenvolvimento do carro para uso em rua, e não para performance de velocidade final. Mas o "cacete" foi tanto, que depois de dois meses de teste, o monobloco do Escort já dava sinais de cansaço (rachaduras nas longarinas)!

O único ponto fraco identificado na parte mecânica foi a junta de cabeçote, que fez com que fosse desenvolvida uma nova junta pelo fabricante, dotada de lâmina de metal em seu centro. Além disso, fora utilizada a embreagem da utilitária Pampa, e a fabricante Weber deu apoio no desenvolvimento do carburador.

A iniciativa do desenvolvimento partiu do engenheiro Eytan Lubicz (que na época tinha um Ford 1959 v8 turbo, um autêntico hot rod do RJ), que convenceu a diretoria da Ishikawajima do Brasil a criar uma divisão de equipamentos para automóveis de rua. A fabricação de kits turbo pela Ishikawajima do Brasil, que até então só atuava na construção de navios, durou cerca de 10 anos, período em que também foram desenvolvidos equipamentos para o motor AP Volkswagen.

E Paulo ainda nos presenteou com fotos de um autêntico Ford Escort XR3 1986 placa preta, com o kit Ishi instalado, além da vista explodida do projeto do equipamento. Gratidão










quinta-feira, 11 de setembro de 2025

2ª etapa do campeonato alagoano de arrancada - 2025

Se em fevereiro deste ano falamos com grande expectativa sobre a retomada da categoria arrancada (confira no menu ao lado), o que vimos na reta do Circuito M3 neste último final de semana foi além do que esperávamos. Marcada para o sábado, 06 de setembro, a 2ª etapa do alagoano de arrancada reuniu mais de 90 carros de várias cidades de Alagoas, bem como dos Estados vizinhos.

Apesar de os treinos terem sido realizados no sábado, as puxadas oficiais só ocorreram a partir da manhã do dia seguinte, pois era só começarem os burnouts que a chuva dava o ar da graça. Entre idas e vindas, minutos de espera para secagem da pista, o tempo fechou de vez no fim da tarde, forçando o adiamento da etapa. Mas a espera valeu. Oh se valeu...

Na medição de 201 metros (1/8 de milha), gritaram forte carros como Chevrolet Chevette e Opala, Volkswagen Gol de várias gerações, Fiat Uno, BMW, entre outros, incluindo a Porsche 911 Turbo S do piloto Márcio Dantas (Camaçari/BA), que quebrou o recorde de 6,6 segundos da Lamborghini Revuelto de Galba Aciolly Filho. Largando sozinha, a 911 3.8 amarela registrou o tempo de 6,57s, que também é o menor tempo deste modelo em todo o Nordeste.

Entre os destaques da prova, tivemos carros como a Volkswagen Saveiro G3 com a caçamba super aliviada do piloto Tadeu, o Chevrolet Kadett carburado de Luiz Buarque (AL), montado às vésperas da etapa, o mítico Mitsubishi Lancer Ralliart 4x4, além do:

- Chevrolet Chevette DL 1993 aspirado de Marconi Menezes (SE), que marcou o tempo de 9,565s + 0,152 de reação.

- Volkswagen UP Cross 2017 de Fabrício Araújo (SE).

- Audi RS6 4.0 2015 de Vitor Melo (BA) - 7,253s + 0,108 de reação.

- Volkswagen Gol "bola" Special 2000 de Niraldo Menezes (SE) - 9,041s.

- Volkswagen Fusca 2.3 turbo 1985 - Miguel Neto (AL)

- Volkswagen Fusca de Roberto Gomes

- Fiat Uno Mille Turbo 2008 de Bruno Nicácio (AL)

Então é isso, amigos, ficamos no aguardo da 3ª etapa, programada para o mês de novembro, com a expectativa de termos o tratamento da pista com vht, que proporcionará um grip ainda maior aos "canhões" que rasgam a reta do Circuito M3.

Seguem algumas fotos da etapa, gentilmente cedidas por Gabriel Araújo, além dos vídeos exclusivos do piloto David Michael, que representa a modalidade do drift em nosso Estado. 

 



























segunda-feira, 1 de setembro de 2025

A última (?) Mil Milhas de Chico Serra - 2007

Francisco Adolpho Serra, ou melhor, Chico Serra, é indiscutivelmente um dos grandes pilotos da história do automobilismo nacional, considerando os feitos alcançados ao longo da carreira, além da sua participação em episódios marcantes da história do esporte a motor. Um exemplo são as corridas que disputou pela Escuderia Fittipaldi na F1, da qual todos nós sabemos das lutas e dificuldades para colocar um carro no grid de largada naquela época.

Em termos de Mil Milhas, Chico fez sua estréia em 1981, e já com vitória na classificação geral. Naquela ocasião, dividiu um Chevrolet Opala Stock Car com os irmãos Affonso e Zeca Giaffone, que marcou a 5ª posição nos treinos classificatórios. Porém, um vazamento de óleo do motor no fim dos treinos, fez com que o preparador Jayme Silva decidisse pela troca do propulsor, o que colocou o Opala na última posição do grid. Mas, através de uma eficiente estratégia de paradas e plano de corrida bem traçado pelos pilotos e por Jayme Silva, os últimos passaram a ser os primeiros, e o trio do Opala nº 6 venceu a disputa após 12h32min13s.

Já tricampeão da Stock Car (1999 a 2001, a bordo do Chevrolet Omega, Vectra chassi tubular com motor 6 cilindros e também com o motor V8, respectivamente), Chico realizou o sonho de disputar uma Mil Milhas com seu filho Daniel, que naquele ano estreava na categoria principal (Equipe Amir Nasr Racing) após ser vice-campeão da Light em 2006. Sobre Daniel Serra, cabe registrar que além de tricampeão da Stock (2017 a 2019), possui, dentre outras conquistas importantes, duas vitórias na classe GTE Pro nas 24 Horas de Le Mans (2017 com Aston Martin Vantage GTE e 2019 com Ferrari 488 GTE Evo).

Naquela Mil Milhas, pai e filho tiveram a companhia de Chico Longo na Ferrari 430 GT nº 74 da equipe JMB Racing. Inscrita na categoria GT2, a linda Ferrari largou da 13ª posição, com o tempo de 1min33s672. Na corrida, Chico, Daniel e Longo terminariam na mesma posição de largada, com 318 voltas completadas.

E desde então, Chico Serra não disputou mais nenhuma Mil Milhas. Mas quem sabe ele não volta em 2026?